sábado, agosto 26, 2006

Crítica: Clube da Lua



"Pelotudo" ou pelo nada...

A arte imita a vida e a vida imita a arte. E o Cinema, que é arte, é também vida. Por que não dizer, então, que o Cinema é a “arte da vida”? Transformar a expressão em aforismo (uhu!) não é tarefa fácil, pois nem sempre os filmes retratam a vida real nossa, do cidadão comum. Afinal, como arte, o Cinema também pode ser fantasia, quimeras, pode representar não o que somos, mas o que gostaríamos de ser, ou o que poderíamos chegar a ser. Pois bem, a mais recente obra do argentino Juan José Campanella, “Clube da Lua”, é representante exatamente do primeiro grupo, o do “cine-vida”, e como de costume na vida do diretor, se sai muito bem.

A película conta a trajetória do “Luna de Avellaneda”, clube de dança fundado na Argentina próspera dos anos 40 e que, cinco décadas depois, vive dias de ruína, reflexo da crise econômica enfrentada pelo país. Román (vivido pelo sempre expressivo Ricardo Darín), com a ajuda de outros amigos, luta para reerguer o clube e preservar a história de glória que o local construiu ao longo do tempo. Por outro lado, ele tenta superar a crise gerada pelo desgaste de um casamento de 20 anos. E é justamente por retratar com fidelidade a derrocada da classe média Argentina nos anos 90, sem perder o bom humor, que a trama se aproxima do espectador.

Impossível não sentir intimidade com os tipos retratados, verdadeiramente humanos, com defeitos e qualidades, com falhas de caráter, como qualquer um de nós. Assim, quando um personagem sai para comprar um perfume importado, pensando que isto vai mudar sua vida, espanta-se com o valor do produto, e acaba levando o que tem o preço mais baixo da loja. É mais barato, é pior, mas ainda assim é um perfume. A metáfora será explicada logo depois, em um diálogo, em que outra personagem sugere que as pessoas se acostumam com cada vez menos, aceitam sempre o pior, desde que o objeto seja um pouco parecido com o que queriam no início, mas esquecem o motivo principal da busca: mudar a própria vida, ou pelo menos melhorá-la. Quantas vezes determinamos a mudança de nossas vidas à dieta que começaremos na próxima segunda-feira, que nos fará perder cinco quilos e nos tornará felizes de verdade? E depois de três meses, o que é que sobra? Humanos, demasiado humanos...

Outro ponto: o longa oferece uma visão não tão bela da poética Buenos Aires. Através da menina Dalma, que chega ao clube procurando comida, nos é mostrado o lado mais pobre da cidade. Vemos sujeira, paisagens desfeitas e descaso social. Nada que não conheçamos daqui, mas sempre uma surpresa quando tratamos de um país tão mais avançado nas questões básicas. Campanella também faz um trabalho impressionante ao retratar, quase simultaneamente aos fatos reais (afinal, o filme é de 2004), o empobrecimento da classe média portenha, e as dificuldades desta para suportar a nova vida, o “corre-corre” para pagar a conta do telefone ou o dentista. Hermanos, demasiado hermanos...

Porém, mesmo com qualidades inegáveis, este é o filme mais fraco da trilogia “metáfora social” estrelada pelo trio Campanella-Darín-Blanco. Precedido pelos maravilhosos (e mui belos) “O Mesmo Amor, A Mesma Chuva” (1999) e “O Filho da Noiva” (2001), o trabalho mais recente é demasiado longo (145 min. de duração) e, por vezes, beira ao piegas. Nada que não possa ser sobrepujado pelas atuações exuberantes de Darín, Blanco (sempre o mais engraçado) e o elenco de estrelas argentinas, mas ainda assim, perde no conjunto da obra, por tratar-se mais de uma película de detalhes, enquanto as anteriores primavam pela uniformidade da trama.

Com seus defeitinhos (talvez o maior deles seja o fato de estarmos mal-acostumados com as primorosas obras anteriores do diretor), mas, principalmente, com seu enorme realismo e sensibilidade, “Clube da Lua” torna-se um filme essencial, seja para invejarmos os “trocentos” anos-luz que o cinema argentino está à nossa frente, ou apenas para nos depararmos com personagens que facilmente poderiam ser transportados para as nossas vãs realidades.

(“Luna de Avellaneda” – Argentina - 2004. Direção: Juan José Campanella. Com Ricardo Darín e Eduardo Blanco)

8 Comments:

Blogger Maressah Sampaio said...

Me disseram que a Ivonete acha tudo uma merda sempre... hehehe.

5:21 PM  
Blogger Maressah Sampaio said...

Mas quem sabe ela um dia me convide pra trabalhar na Teorema...

5:21 PM  
Blogger Maressah Sampaio said...

Não confunda ironia com pretensão. Eu não entendo de cinema da Lituânia, logo a Ivonete nunca me convidaria.

5:37 PM  
Blogger Reverendo R. said...

É uma pena eu não poder ver filmes, e, também não etender nada sobre.

Acho que o último filme que vi no cinema foi Chatran, a vida de um gato onde não há um diálogo, bem bacana.

Mas me agrada a ironia, me agrada sim...

5:40 PM  
Blogger Reverendo R. said...

Eu não leio os outros, só faço citações, quase sempre auto-recorrentes.

Até mais, crianças! =)

6:05 PM  
Anonymous Anônimo said...

Pô, gente, eu não gosto só de cinema da Lituânia. Gosto de cinema da Armênia, do Butão e da Bósnia também...
Iv

2:53 PM  
Blogger Maressah Sampaio said...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


Mas bah!!!!!!!!!!!!!!

Que honra ter a prof no nosso blog!

7:39 PM  
Blogger Reverendo R. said...

Professores, onde? Onde?

Fiquei com medo.

Engraçado, eles fazem cinema no Butão? Bem interessante.

Quero ver um filme de Butão, quero ver.

Alguém aí tem?

4:04 PM  

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